A antiga propensão para a despreocupação e o divertimento foi de certo modo inibida pelo culto da eficiência... A noção de que atividade boa é aquela que produz lucro constitui uma completa inversão da ordem das coisas... Quero dizer que quatro horas diárias de trabalho deveriam ser suficientes para das às pessoas o direito de satisfazer as necessidades básicas e os confortos elementares da vida, e que o resto de seu tempo deveria ser usado da maneira que lhes parecesse mais adequada. Uma condição fundamental de um sistema social é que a educação ultrapasse as suas atuais fronteiras e adote como parte de seus objetivos o cultivo de aptidões que capacitem as pessoas a usar de seu lazer de maneira inteligente... os prazeres das populações urbanas se tornaram fundamentalmente passivos: ver filmes, assistir partidas de futebol, ouvir rádio e assim por diante. Isso ocorre porque as energias ativas da população estão totalmente absorvidas pelo trabalho. Se as pessoas tivessem mais lazer, voltariam a desfrutar prazeres em que participassem ativamente... Sem a classe ociosa, a humanidade nunca teria emergido da barbárie...
Num mundo em que ninguém tenha de trabalhar mais do que quatro horas diárias, todas as pessoas poderão saciar a curiosidade científica que carregarem dentro de si... Acima de tudo haverá felicidade e alegria de viver, em vez de nervos em frangalhos, fadiga e má digestão. O trabalho exigido será suficiente para tornar agradável o lazer, mas não levará ninguém à exaustão. E como não estarão cansadas nas horas de folga, as pessoas deixarão de buscar diversões exclusivamente passivas e monótonas...
Nesse aspecto, temos sido tolos, mas não há razão para sermos tolos para sempre.
Bertrand Russell - Elogio ao ócio
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